A Tia Aninha - cap 3

Partiu, mas antes disso, prometeu, por intermédio de uma boa amiga da moça, guardar-lhe
fidelidade, e voltar um dia, quando melhorasse de posição, e de haveres, para casar-se com ela.

Prometeu igualmente escrever- lhe por todos os correios, promessa que cumpriu, graças ainda ao
gracioso intermédio da amiga, que recebia as cartas, embora endereçadas à tia Aninha.


Isto passava-se em 1844. Durante dois anos vieram cartas por todos os correios.
Nas penúltimas, o moço queixava-se, em caracteres trêmulos, de que se sentia muito enfermo, e nas
últimas que eram lacônicas, escritas sob um esforço violento e visível já não falava um doente mas
um moribundo. "Talvez seja esta a minha última carta" escreveu ele um dia - e a moça não recebeu
mais nenhuma.

Dois ou três meses depois o pai friamente, à mesa do jantar, deu- lhe a notícia da morte do
noivo.

A pobrezinha contava já vinte e seis anos. Se até então repelira todas as propostas de
casamento que lhe foram feitas pelo pai, dali por diante não admitiu que lhe falassem
mais nisso.

O velho, depois de se meter imprudentemente numa arriscada especulação de açúcares, faliu em
1850, e alguns meses depois desaparecia, fulminado por uma congestão.

Mãe e filha ficaram reduzidas à pobreza extrema. Os amigos de outrora, sumiram-se,
afugentados pelo aspecto da miséria.
Em 1855 redobraram ainda os infortúnios de Aninha, com a morte da mãe, vítima do cólera- morbo.


Datavam dessa época a sua vida de boêmia e a sua lata de folha. Tinha então apenas trinta e três
anos, mas não lhe davam menos de cinqüenta tais foram os estragos causados pelo
sofrimento.