Série: A Corte Portuguesa no Brasil - Cap 11 - Como os Bragança Criam uma Dinâmica Social Brasileira

 Graças a Napoleão, que provoca a mudança da Corte, tivemos a inserção política do Brasil no Reino de Portugal e a chance de crescer como nação no novo mundo que emerge do turbilhão social que varre a Europa e começa a reestruturar a sociedade européia, pós-revolução francesa, abrindo vários caminhos para o desenvolvimento, pois um rei Português, forte, independente e bem instalado, na distante Lisboa, jamais teria dado liberdade para que uma classe dirigente do Brasil Colônia ficasse rica e poderosa o suficiente para pleitear sua inserção no teatro social centenário da Corte recebendo dignidades e títulos nobiliárquicos. Entretanto o início econômico do Brasil, como nação, foi engolfado pela Inglaterra que se aproveita da debilidade da Corte no exílio e abusa de sua força estrangulando o incipiente desenvolvimento comercial brasileiro. A configuração social da corte de D. João 6º no Brasil é composta de uma mistura da nobreza européia centenária, quase falida, e de nobres de toga bem mais recentes que eram os ricos vindos da classe comercial, graças à política de enobrecimento do Marquês de Pombal e, tambem, da elite da terra brasileira que tinha enorme riqueza e se liga à Corte honrados/cooptados com as Insígnias das Ordens centenárias e com Brasões de Armas, dados como prêmio de relevantes serviços prestados ao rei e, principalmente, às grandes doações que permitiram a manutenção do fausto da Corte falida, tudo isso reproduz a mesma dinâmica social estabelecida em Portugal desde D. João 5o (1706-1750). Para conseguir renda e manter a Corte, durante o período que passou no Rio, D. João 6º concedeu títulos a 28 marqueses, 8 condes, 16 viscondes e 21 barões, além de fazer 4.000 cavaleiros. Tal quantidade foi criticada por Pedro Calmon que satiriza esta prodigalidade: tornar-se conde em Portugal exigia 500 anos, no Brasil apenas 500 contos.


Esta prodigalidade do Rei D. João 6º consegue, graças a essa inteligentíssima estratégia, exterminar as possíveis ilusões democráticas pós-revolução francesa e lhe permite administrar e controlar, todas as classes sociais na dourada cadeia da subordinação ao Rei, sempre tendo em vista a preservação da pirâmide monárquica na qual esses ricos nativos brasileiros querem se inserir e mantém sob rígido controle tais indivíduos em seus ofícios e no devido respeito à sua autoridade Real, garantindo a sobrevivência da Dinastia, pois o Rei nesta sociedade estamental de uma monarquia absoluta, é o único dono de tudo e de todos no Reino que é a sua Casa, onde ele faz o que quer, quando quer. Esta semente de estrutura social, lastreada na ambição de ascensão social da elite brasileira, irá frutificar com tremenda intensidade no Império que se instala após a volta de D. João 6º a Portugal em 1821, quando os 2 Imperadores se valem desta forte ambição de ser nobre que tem a elite brasileira, para sustentar o Império e lançar as bases da permanência de sua dinastia no Novo Mundo cercando-se, em apenas 67 anos, de barões, viscondes, condes e marqueses num total de 986 titulares que recebem 1.211 títulos (assim divididos: 3 Duques, 47 Marqueses, 51 Condes, 235 Viscondes e 875 Barões) que tudo devem ao Imperador que lhes concede esta benesse apenas ad personam (= de caráter pessoal isto é, vale apenas para o agraciado durante a vida, não sendo a nobreza brasileira hereditária, detendo o Imperador o poder total de administrar com mão de ferro a sucessão do título e manter as famílias sob sua completa dependência, num aprimoramento muito esperto/ardiloso do que fazia D. João 6º)Essa multidão de nobres sustenta e protege o Império dos perigosos ventos democráticos que assolavam a Europa pós-napoleônica com toda a lealdade, fidelidade e interesse em perpetuar esta Dinastia que os dignifica como nobres e que, provavelmente, teria se mantido se houvesse um herdeiro masculino para ser Pedro III.