Neste trecho da história, a mãe de Vera chama a menina para jantar. A família de Vera tem
mania de relógio. Todos os seus gestos são marcados por horas: hora para comer, levantar,
brincar, estudar, ver televisão...
No dia seguinte Alexandre conhece o pai de Vera, que era plantador de flor. A menina trouxe
comida para ele e o Pavão. Vera estava intrigada com o show do dia anterior. Alexandre
desvendou-lhe o mistério. Os pais de Vera não estavam gostando muito daquela amizade entre os dois, pois Alexandre era um menino largado no mundo, sem perspectivas de futuro. O menino explica a Vera que ele tem família e casa, portanto não está largado no mundo. Está
com o Pavão, indo para a casa da madrinha, aquela de cuja casa Augusto, seu irmão, lhe
contara lindas histórias. Apesar de muito pobres, Augusto e Alexandre se gostavam muito e
eram bons amigos. Um dia Augusto falou em casa que estava na hora de Alexandre ir para
escola, porém a pobreza familiar o obrigava a trabalhar para ajudar com as despesas. Ficou
acertado que estudaria durante a semana, e nos fins de semana trabalharia.
A professora de Alexandre tinha uma maleta repleta de surpresas. Dessa maleta ela tirava as
coisas mais inusitadas. Eram pacotes coloridos. Cada cor representava uma aula diferente.
Azul, dia de inventar brincadeiras; vermelho, dia de viajar através de retratos; verde, dia de
contar histórias, e assim muitos outros pacotes, de muitas cores. Num dia do pacote verde,
Alexandre contou para seus colegas de classe sobre a sua vida, seu trabalho. Os pais não
estavam gostando muito daquela professora. Surrupiaram sua maleta e ela não pôde mais
lecionar. A situação na casa de Alexandre piorou tanto que ele teve de desistir da escola.
Augusto arrumou um serviço e viajou para trabalhar em São Paulo. Mas na última noite que
passou com o irmão despertou-lhe a curiosidade, a respeito da casa da madrinha dele. Contou histórias lindas.
Quando Alexandre chegou ao ponto em que discorria sobre o dia que resolveu viajar para a
casa da madrinha, Vera olhou para o relógio e viu que estava na hora de ir embora.
Quando se reencontraram, recomeçaram a conversar a partir do marinheiro João das Mil e
Uma Namoradas. Contou da viagem do Pavão e de como ele ficou despenado, após algum
tempo de viagem, pois o marinheiro tinha namorada que não acabava mais.
O veterinário tratou bem do Pavão, até deixá-lo novamente lindo e maravilhoso. Foi levado
para um zôo e vivia uma vida muito boa, até que Joca, vigia do Jardim Zoológico, resolveu
roubá-lo para apresentá-lo como número principal na escola de samba na qual fazia parte da
bateria. O tempo passou, Joca envelheceu e já não batucava bem. O pessoal da escola de
samba disse que seu tempo se esgotara. Foi quando o vigia do zoológico teve a idéia de levar o Pavão para a escola de samba, em troca da sua permanência na bateria. Seu Joca um dia ficou surdo e não teve mais como batucar na escola de samba. Foi mandado embora. Nesse dia, sua consciência pesou e ele decidiu devolver o Pavão para o zoológico. Porém, ao ler um anúncio chique, seu Joca optou por vender o Pavão para uma família rica, que queria enfeitar seu jardim com aves raras.
Lá foi o Pavão morar naqueles belos jardins, na companhia de dois cachorrões. Após alguns
dias e noites de solidão naquela casa, Pavão conhece a Gata da Capa, gata vira-lata, que se
escondia atrás de uma capa maior que seu corpo. O Pavão ficou maravilhado com a bichana.
Diziam que vira-lata tinha pulga; sujava tudo; diziam que vira-latice pegava: era só bater
muito papo com um vira-lata pra gente ir se vira-latando também. E então enxotaram a Gata
da Capa de tudo quanto era lugar. Por isso ela se escondia na capa de chuva, e levantava a
gola, e puxava o capuz, e vivia procurando um lugar pra se esconder ainda melhor do que a
capa.