Quando a tia Aninha acabou de me contar todas essas coisas, uma tarde em que por acaso nos
achamos sozinhos, num dos seus asilos habituais, no jardim, à sombra de uma latada, não me atrevi
a dizer- lhe que na sua existência de viúva-virgem não havia matéria para um romance, a menos
que o talento e a imaginação do romancista suprissem o que lhe faltava. Entretanto, proferi
esta frase, que continha uma fórmula de consolação:
A sua vida é, na realidade, um verdadeiro romance, tia Aninha; mas creia que esse mesmo
tem sido o romance de muitas mulheres.
Oh! Se o senhor lesse as cartas que ele me escreveu! Só elas dariam páginas e páginas. Era um
simples caixeiro, mas muito inteligente. Quer vê-las?
O quê?
As cartas!
Ainda as conserva?
Se ainda as conservo? São a minha fortuna. Vou buscá- las.
A velha ergueu-se, foi ao seu quarto, e pouco depois voltou trazendo a sua inseparável lata de
folha.